terça-feira, 5 de abril de 2016

BALANÇOS

Não gosto, não faço. Nem sequer de balanças, que nos pesam o corpo e a vida. 
Gosto de recordar o passado, sem pensar se faria ou não tudo diferente - sei lá, quase não me lembro de ter 18, 20 anos, foi noutra vida - porque de certeza que não sou a mesma pessoa que era há 30, 20 ou há 10 anos atrás. A cara é a mesma (mais enrugada), o corpo também (mais flácido), mas a maneira de ver e viver a vida foi-se alterando, a idade deu-me essa benesse, a vida tornou-se mais solta, tornou-me mais consciente, foi-me levando alguns medos e instalando outros diferentes, mas que já ser gerir com mais habilidade. Das poucas saudades que tenho do passado, é da juventude dos meus pais, de alguns amigos que nunca mais vi, das minhas pessoas que já não vivem. O futuro não me preocupa, deixei de sofrer por antecipação, interessa-me o hoje, o agora. O passado não o posso mudar (e quereria?), o futuro não o posso prever, mas agora depende de mim, se quero continuar a ser a menina insegura que fui, a menina mimada que talvez seja sempre, a mulher inquieta em que me tornei e que aos poucos vou doseando. Não gosto de balanços de vida, tento não cometer os mesmos erros - vou cometendo outros, para não me entediar - tento gerir a minha vida sem implicar com a dos outros, mas quero continuar imperfeita, com os defeitos que tenho e assumo, que assim também se aprende, se fosse perfeitinha aborrecia-me de morte, se aceitasse tudo de ânimo leve a vida seria mais cinzenta, se não questionasse seria uma tonta, se não fosse a cabra que às vezes sou, que graça tinha. Levo uma vida comum, igual a tantas outras, com a diferença de que esta é minha, a única que tenho e portanto é agarrar nela à minha maneira, dar-lhe cor, sabor, prazer, uma pitada de sal, mexer bem e desfrutar (com toda a merda pelo meio, pois claro.)


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