quinta-feira, 3 de setembro de 2015

"FALTA-NOS UM PRESENTE"

Andamos sempre muito ocupados, com as nossas vidinhas, com os nossos problemas (sempre maiores e piores que os dos outros, afinal, são nossos), lamentamo-nos muito, do tempo, do dinheiro que não estica, dos filhos, do emprego, do cão do vizinho, andamos sempre numa correria, andamos sempre cansados, andamos sempre stressados. No final do dia, temos o nosso porto de abrigo – a nossa casa – por muito singela que seja, não interessa, é lá que carregamos baterias, é lá que à noite deitamos a cabeça na almofada e adormecemos, com a certeza de que, no dia seguinte veremos de novo o sorriso dos nossos filhos, que continuamos com o mesmo trabalho, os mesmos colegas, que a nossa casa se mantém erguida para nos acolher, enfim, que a nossa rotina, a nossa vida continua, com problemas e alegrias.
E se um dia não for assim? Se um dia acordarmos e não reconhecermos a nossa rua, se caírem os escombros da nossa casa em cima de nós, se a vida como sempre a conhecemos – e tínhamos como garantida – desaparecer?
E se um dia num qualquer país, as imagens que passam nos meios de comunicação social, a dar conta dos milhares de migrantes que fogem do seu país a qualquer custo, - de barco, de contentor, a pé, a nado - devido à guerra, mostrarem as nossas caras, as dos nossos filhos, dos nossos pais, dos nossos amigos? 
Caras onde se lê o desespero, o terror, o absurdo, o cansaço, de serem escorraçadas do seu país como cães sarnentos, da sua realidade, da sua liberdade, da sua língua mãe, para tentarem uma vida (vida?) em países que os “recebe” como leprosos, que erguem barreiras e arame farpado à sua chegada, que os encaminha para campos de refugiados, onde não existem as mínimas condições para um ser humano viver estar.
Que crime cometeram estas pessoas? Que mal fez o povo sírio ao mundo? Quantos mais ainda terão que sofrer, que morrer, para que o mundo aprenda algo com isso, uma vez, que em pleno século XXI e com tantas atrocidades anteriormente cometidas, não aprendemos nada, rigorosamente nada.
Portugal irá receber alguns (poucos) destes refugiados, no âmbito do Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI). Acredito que grande parte deles, não queira ficar em Portugal durante muito tempo e percebo-os, contudo, sejam bem-vindos, que aqui encontrem alguma paz e dignidade que lhes roubaram.
Quanto aos jihadistas, quem os financia? Quem os arma? Quem lhes concede este poder monstruoso?

(O título deste post, pertence a um poema da autoria do poeta árabe Mahmoud Darwish)

2 comentários:

  1. Quem ao longo da Historia tem cometido o mesmo erro vezes sem conta e que pelo que parece já equacionou fazer o mesmo desta vez. Deviam os lideres europeus fazer chegar "muitos" destes refugiados a esses países, poderíamos assim, ver com clareza os reais sentimentos.

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    1. O que não impede Portugal de acolher alguns destes refugiados. Lembre-se dos milhares de portugueses que foram recebidos por esse mundo fora, muitos deles para escaparem da miséria e da ditadura de Salazar.

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