Decidi criar este blog por duas razões, porque profissionalmente também escrevo num e gosto de o fazer e porque quando comecei a ter consultas de psiquiatria, fui aconselhada a ir a um psicólogo, não o fazendo criei o blog na tentativa de expurgar demónios e pôr cá para fora o que me faz feliz e infeliz. Portanto, este blog é aquilo que sou, aquilo que faço, o que penso, o que gosto e não gosto, não criei nenhuma personagem para ele (nem teria talento para isso), não sendo o meu nome, a Magui - diminutivo do verdadeiro - sou eu, ao vivo e a cores.
Inicialmente desejei que fosse anónimo, até porque a fotografia não é muito clara, pessoas que me conhecem, não me reconhecem imediatamente nela, mas, agora já me é indiferente, sinal de que "o mundo pula e avança".
Já aqui e aqui falei da minha profissão - Funcionária Pública, sem nunca referir o que faço e onde, mas, como estou constantemente a levar pancada por esse motivo (inclusive em blogues que aprecio e leio), hoje decidi botar faladura acerca do assunto.
Trabalho há 26 anos numa Câmara Municipal, comecei como telefonista (não tenho curso superior, apenas o 12º ano), logo com as famigeradas 35 horas semanais, se fossem 40, não me tinha negado ao trabalho, ninguém me estaria a enganar como pretendeu o anterior governo. Como telefonista nem tempo tinha para ir à casa de banho, que aquilo parecia coisa do demónio, constantemente a apitar e apenas eu para atender tanta linha interior e exterior. Passados 5 ou 6 anos passei para a secção de Expediente Geral, onde fazia o mesmo que os outros colegas, com a diferença que continuei sempre com o salário de Telefonista, enquanto eles recebiam mais como Assistentes Administrativos (cargo este, equivalente a um empregado de escritório, uma secretária, no privado), sempre tentei desempenhar bem o meu trabalho, independentemente da desigualdade de salário, nunca assumi o papel de coitadinha, e sim, havia e sempre haverá colegas que se encostam, que se puderem nada fazer não se chateiam com isso, (não sei como é no privado, nunca lá trabalhei, mas pelo que oiço e leio isso não acontece, é tudo muito trabalhador e cioso das suas funções!).
Entretanto a Câmara decidiu criar uma Biblioteca Municipal integrada na Rede de Bibliotecas Públicas, em que um dos requisitos era haver um determinado número de funcionários com o curso técnico profissional de biblioteca, a Câmara decidiu contratar três pessoas com o curso e dar a possibilidade a outras três suas funcionárias de o frequentarem em Lisboa, para posteriormente trabalharem na Biblioteca. Eu fui uma delas, juntamente com outras duas que durante um ano, trabalhávamos de manhã na Câmara e depois de almoço íamos para Lisboa, chegando a casa perto da meia-noite, (fazendo por dia cerca de 300 Km), foi cansativo, mas uma experiência incrível e muito gratificante. Depois de terminado o curso, começamos a trabalhar na Biblioteca e só passados 4 anos é que eu comecei a receber como Técnica Profissional de Biblioteca, por duas vezes subi de categoria, através de concurso com prova escrita e oral sobre legislação e outras matérias, até ao congelamento das progressões.
Na Biblioteca Municipal, onde já trabalharam nove pessoas, somos actualmente cinco, quatro com a categoria de Assistente Técnico (uma vez que um Governo reduziu e extinguiu muitas carreiras) e a coordenadora que é Técnica Superior.
Vou dar-vos uma grande novidade, sou uma pessoa normalíssima, como somos todos, tenho dias bons e dias menos bons, mas tento, como devemos tentar todos, dar o meu melhor, ser simpática e útil para as pessoas que atendo, fazer o meu trabalho de forma séria. Já fui ameaçada por uma senhora, já houve uma pessoa que estando à espera dum vereador para uma reunião, me disse cobras e lagartos porque o vereador estava atrasado e quando ele chegou foram só sorrisinhos e abraços, outra pessoa que por achar cara uma fotocópia tirada numa Biblioteca, me voltou com as mesmas cobras e lagartos, e quando eu lhe sugeri o Livro de Reclamações acovardou-se. Gosto muito do que faço, gosto das pessoas com quem trabalho, trabalho meio dia ao sábado sem esse tempo me ser pago, faz parte do horário da Biblioteca, não há cá pagamento de trabalho extraordinário e se houvesse caia todinho na folha de vencimento, que não existem pagamentos por fora, ( lá está, não sei como é no privado, mas deve ser igual!)
Não me lembro da última vez que fui aumentada, trabalho 35 horas semanais, se querem que trabalhe 40 ou 50, paguem-me mais por isso, temos a ADSE que se sustenta a ela própria (confirmação do ex-ministro da Saúde, Paulo Macedo), há despedimentos na função pública, em menos de um ano na Câmara a que pertenço, três pessoas vieram para a rua.
E que raio se faz nas Bibliotecas Municipais? Frequentem-nas e logo verão.
Há gente incompetente na função pública? Há, os competentes estão todos no privado. Há gente a ganhar demais na função pública? Eu não sou, mas há sim senhor, a porra é que generalizarfode-me lixa-me os miolos.
Há gente incompetente na função pública? Há, os competentes estão todos no privado. Há gente a ganhar demais na função pública? Eu não sou, mas há sim senhor, a porra é que generalizar
Para finalizar, a cereja no topo do bolo, se houver desse lado alguém com 26 anos de trabalho no privado, a desempenhar as mesmas funções que eu, ou semelhantes, cujo salário deste mês foi inferior ao meu - 750 e poucos euros líquidos, incluindo os duodécimos do subsídio de Natal, mande-me o seu NIB que eu transfiro esta merda de salário para a sua continha.
Canalizem a vossa raiva contra a função pública, para matérias mais úteis e da próxima não encham a boca de impropérios contra ela, em vez disso, encham-na com outra coisa mais prazerosa e depois engulam ou deitem fora.
Canalizem a vossa raiva contra a função pública, para matérias mais úteis e da próxima não encham a boca de impropérios contra ela, em vez disso, encham-na com outra coisa mais prazerosa e depois engulam ou deitem fora.
adorei quem fala/ escreve assim não é gago. Esta é a Magui que conheço ao vivo a cores
ResponderEliminarOh pá, chega uma altura que nos salta a tampa. Beijinho.
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