Andamos sempre muito ocupados, com as nossas vidinhas, com os
nossos problemas (sempre maiores e piores que os dos outros, afinal,
são nossos), lamentamo-nos muito, do tempo, do dinheiro que não
estica, dos filhos, do emprego, do cão do vizinho, andamos sempre
numa correria, andamos sempre cansados, andamos sempre stressados. No
final do dia, temos o nosso porto de abrigo – a nossa casa – por
muito singela que seja, não interessa, é lá que carregamos
baterias, é lá que à noite deitamos a cabeça na almofada e
adormecemos, com a certeza de que, no dia seguinte veremos de novo o
sorriso dos nossos filhos, que continuamos com o mesmo trabalho, os
mesmos colegas, que a nossa casa se mantém erguida para nos acolher,
enfim, que a nossa rotina, a nossa vida continua, com problemas e
alegrias.
E se um dia não for assim? Se um dia acordarmos e não
reconhecermos a nossa rua, se caírem os escombros da nossa casa em
cima de nós, se a vida como sempre a conhecemos – e tínhamos como
garantida – desaparecer?
E se um dia num qualquer país, as imagens
que passam nos meios de comunicação social, a dar conta dos
milhares de migrantes que fogem do seu país a qualquer custo, - de
barco, de contentor, a pé, a nado - devido à guerra, mostrarem as
nossas caras, as dos nossos filhos, dos nossos pais, dos nossos
amigos?
Caras onde se lê o desespero, o terror, o absurdo, o
cansaço, de serem escorraçadas do seu país como cães sarnentos, da sua realidade, da sua liberdade, da
sua língua mãe, para tentarem uma vida (vida?) em países que os
“recebe” como leprosos, que erguem barreiras e arame farpado à
sua chegada, que os encaminha para campos de refugiados, onde não
existem as mínimas condições para um ser humano viver estar.
Que crime cometeram estas pessoas? Que mal fez o povo sírio ao
mundo? Quantos mais ainda terão que sofrer, que morrer, para que o
mundo aprenda algo com isso, uma vez, que em pleno século XXI e com
tantas atrocidades anteriormente cometidas, não aprendemos nada,
rigorosamente nada.
Portugal irá receber alguns (poucos) destes refugiados, no âmbito
do Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI). Acredito
que grande parte deles, não queira ficar em Portugal durante muito
tempo e percebo-os, contudo, sejam bem-vindos, que aqui encontrem alguma paz e dignidade que lhes roubaram.
Quanto aos jihadistas, quem os financia? Quem os arma? Quem lhes
concede este poder monstruoso?
(O título deste post, pertence a um poema da autoria do poeta árabe Mahmoud Darwish)