quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

TRISTEZA QUE PODIA SER MINHA

Vi a miúda que já não via há muito tempo. Cumprimentei-a, ela sorriu e à minha pergunta disse que sim, que estava tudo bem e eu comovi-me.
Olhando de novo para ela, recordei a criança/menina que brincava com a minha filha, o seu desenvolvimento na linguagem enquanto a minha balbuciava as palavras o tempo em que eram as melhores amigas, a altura em que se começou a notar que algo de errado se passava com ela, a percebê-la perdida, a pedir à minha filha e a outras amigas que falassem com ela que não a deixassem escapar. Sim mãe, nós falamos, mas ela diz que a vida é dela, respondia a minha.
A lembrar-me do medo que senti, talvez por egoísmo; da culpa por não ter feito nada, por ver acontecer e não me querer intrometer.
Pensar que com 17 anos, ninguém devia ter uma história de vida tão penosa, pensar porquê esta e não a minha ou outra qualquer, porquê uma menina que nasceu dois meses depois da minha, vizinhas e amigas até ao ponto da ruptura.
É complicado, dizemos todos, e seguimos aliviados por não ser connosco.
Será que o infortúnio escolhe aleatóriamente? Escolhe os mais fracos ou os mais fortes? Será culpa de alguém? Se for, não precisa que lhe apontem o dedo, o peso que carregará é punição suficiente.
Continua a doer-me olhar para ela, pensar nela, saber o motivo da sua ausência prolongada.
O medo, esse continuo a tê-lo, principalmente pela minha filha.




4 comentários:

  1. Pequeno caso sério09 fevereiro, 2017

    Este é um daqueles assuntos em que o melhor comentário que posso fazer ao teu post é só este :
    (silêncio-cúmplice -de quem também pensa na merda que é não conseguirmos proteger os filhos de todos os males)

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  2. Queremos protegê-los ao mesmo tempo que os vamos ensinando e preparando para voarem, para crescerem, para viverem. É uma missão impossível, que nos faz andar sempre em estado de alerta.

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  3. Não deve ser fácil, não sei. Não sou mãe mas sou um ser humano e custa. Muito.

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    1. Nunca é fácil ver uma pessoa em sofrimento ou perdida na vida, então se for um filho é como se nos arrancassem a pele.

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