em que não me apetece nada, aliás, queria ser uma toupeira e enfiar-me terra dentro e deixar-me estar sossegada, a sentir o frenesim cá por cima e eu encolhida na terra sem pensar, sem sentir, sem ninguém dar por mim.
Mas as merdas quando surgem têm que ser enfrentadas e resolvidas, certo?
Pois, mas antes disso, permitam-me que faça uma monumental birra, que desate aos gritos, que chore, que faça o diabo a sete. Não me peçam calma, uma pessoa crescida também tem estas necessidades de vez em quando.
E eu que perdi a capacidade de chorar, de expurgar os meus demónios, de gritar ao vento as minhas fraquezas, como faço? Ensaio ao espelho o meu melhor sorriso, e saio porta fora de encontro à vida e peço aos santinhos em que não acredito que levem os meus ataques de ansiedade para outras paragens, porque hoje não posso, é Natal, caraças, agora não, hoje não, amanhã não, depois de amanhã também não. Será que consigo convencer o meu cérebro disso? Enganá-lo, por uns dias e depois com calma tentar voltar à minha normalidade, aos meus dias, às minhas pessoas, as presentes e ausentes que moram no meu coração.
É Natal, e eu gosto tanto dele, mas há dias assim, em que nada me apetece.
Sabes eu sou assim. Sabes como tenho andado, sabes o meu estado, sabes, fiquei assim. Sei, sei que devo ter sempre compreensão, devo sempre não reagir a quente, devo sempre ouvir, devo sempre apoiar, devo sempre sorrir. Nunca posso sentir vontade de ficar calado, vontade de gritar, vontade de questionar; porquê? Não posso? O meu porquê vai fazer diminuir o valor dos sentimentos, vai dificultar o relacionamento, vai fazer piorar o outro, vai? Ele é forte, não sofre disso, não pensa nisto, não quer saber. Não. Não sou sempre forte, erro, faço asneiras, desisto, esqueço, repito, repito-me. Não posso escrever, dou erros, sou um “burro”; não sei gramática; sujo e não limpo; não compreendo; só penso em mim; sou distraído; sou. Eu gosto mas os actos não demonstram, gosto mas não parece, gosto mas não sofro, gosto. SOU ASSIM 365 OU 6.
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