terça-feira, 5 de maio de 2015

IRMÃOS

Sou filha única, sempre aceitei isso como um facto consumado. Sou filha única e pronto.
Na minha infância convivi e brinquei muito com primas pouco mais velhas do que eu, mas quando chegava à noite a casa, continuava a ser eu, o meu pai e a minha mãe (e o cão que tive durante anos). Nunca foi um assunto tabu, a minha mãe por questões de saúde, não pôde ter mais filhos, não foi um trauma (pelo menos para mim), habituei-me a ser sozinha, mas com certeza que dalgum modo isso moldou o meu carácter, no entanto não me sinto nem mais egoísta nem mais generosa que outras pessoas que conheço.
Lembro-me de ser muito jovem e ler o livro “Rosa minha irmã Rosa” de Alice Vieira, e pensar que ter irmãos devia ser bom, mas eu não tinha, nunca tive, nada de dramas.
Quando casei, desejei ter mais que um filho, não queria um filho único, filho de pais sem irmãos e felizmente sou mãe de duas meninas. Mas mais do que isso, sinto-me especialmente afortunada com a relação que as minhas filhas mantêm uma com a outra, aquele amor, aquela cumplicidade, aquelas brincadeiras, aqueles arrufos, os beijinhos e abraços que só os irmãos sabem dar e sentir (imagino eu), deixam-me tão, mas tão feliz. A mais nova a chamar mana à mais velha, esta sempre de volta da irmã a pedir beijos à mana dela, deixam-me encantada e só desejo que nunca deixem este sentimento uma pela outra, mesmo que estejam longe não deixem este amor, esta cumplicidade escapar, que possam contar uma com a outra, que se possam valer sempre.
Agora que estou mais velha madura, penso por vezes que seria benéfico ter um irmão que sentisse o mesmo que eu, com quem pudesse compartilhar os bons e os maus momentos, mas continuo a encarar sem dramas, a vida resolve-se de outra maneira.





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