quinta-feira, 26 de março de 2015

NINHO VAZIO

Dizem os especialistas que a "Síndrome do ninho vazio" corresponde à altura em que um casal fica sozinho,  depois dos filhos abandonarem o lar.
Depois de muitos anos em que a vida do casal (a nossa vida) gira principalmente em torno dos filhos, torna-se muitas vezes traumático e difícil ultrapassar a ausência dos mesmos.
No meu caso, casada há 24 anos, mãe há 22, a minha vida familiar (e penso que a da maioria das famílias com filhos) tem-se centrado basicamente nas necessidades, nos desejos, nas preocupações das minhas filhas, algumas vezes abdicando de algo que me dá prazer, em prol delas (mas nunca cobrando isso) e esquecendo a relação a dois, caindo numa rotina que por vezes exaspera.
Quando por algum motivo uma se ausentava, ficava a outra. Quando a mais velha saiu para a faculdade, vinha a casa quase todos os fins de semana e a mais nova estava no 6º ano. 
Mas no principio deste ano a mais velha foi trabalhar para o estrangeiro e para além das muitas saudades, colmatadas todos os dias via skype ou telefone, ficamos sim, como que amputados de um membro. Mas é preciso saber viver com essa amputação, é preciso saber dar a volta nestas alturas e sorrir com a situação. Porque ela foi fazer o que gosta e para o qual estudou, porque ela está a crescer pessoal e profissionalmente, porque se está a adaptar a uma nova realidade,  porque ela está bem, logo, eu também estou bem e muito orgulhosa dela ter tomado esta decisão, porque foi assim que educamos as nossas filhas, para serem autónomas  para fazerem aquilo que as faça felizes, para tomarem opções pelas suas cabeças, para voarem, sabendo que caindo estamos cá para as amparar.
 É preciso lidar bem com esta ausência que dói. O meu psiquiatra disse-me uma coisa muito interessante acerca deste assunto; a  família é um ponto de partida, não de chegada.
Ontem a mais nova foi de férias por uns dias, numa viagem escolar, significa então que o meu ninho ficou vazio? Não creio, porque espero (esperamos os dois) ter mais tempo para nós, para namorarmos mais, porque ao fim destes anos todos de namoro e casamento (27??!!), continuamos a apostar na nossa relação, e apesar de termos feitios muito opostos, somos o equilíbrio um do outro, porque além de amarmos as nossas filhas acima de tudo, a nossa vida não se esgota nelas.
Eu sou uma mãe muito apaixonada, mas sou também mulher e uma esposa apaixonada pelo marido. Sou filha, amiga, colega, sou muitas outras coisas de que gosto, são vários amores (diferentes) que fazem parte do que eu sou.
A vida constrói-se por várias e distintas etapas, mas mesmo naquelas que não são como desejamos, temos que lhe dar algum sentido, temos que nos esforçar para isso.
Nestes dias em que o nosso ninho vai estar meio cheio, meu caro R. "se prepare, que vou-lhe usar".


3 comentários:

  1. No teu novo mundo da blogosfera como autora, a que estou atento, em que surpreendido sorrio sempre que percebo o quanto te admiro, onde encontro o saber da moça antiga, o humor da jovem moça e o amor de sempre, fiquei ansioso com a sublime mensagem. R ;)

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  2. Atenção!... Muita atenção! Isto está a caminhar para a ordinarice!...Ainda agora começou e já é assim?!... Sabe-se lá o que para aí vem quando a outra sair de casa...

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  3. Existem aspas por colocar. A ansiedade entre aspas repetidas, repetem paixão, repetem

    desejo e repetem amor. Existem também as reticências, pausas nas palavras, pausas para dar

    lugar aos atos, pausas para que o amor aconteça. Existe também o etc, etc do etc para que

    nunca termine. E o idem, para que depois do fim, tudo renasça. Por isto, idem idem "" "" ... R.

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