Ontem de manhã, a minha casa, a minha rua que dista cerca de 100 km de Pedrógão Grande era um mar de cinza.
Oiço nos noticiários, nos comentários que desta vez não foi fogo posto, foi um acto da natureza.
Até para o horror conseguimos arranjar desculpa.
Para quando um plano de prevenção eficaz?
Para quando plena coordenação entre todas as entidades que operam no terreno nestes casos? Para quando legislação com mão pesada para todos aqueles que não limpam os seus terrenos? Para quando ser o Estado a dar este exemplo? A limpar florestas e pinhais, bermas de estradas, a criar aceiros e cursos de água, zelando pela sua preservação ao longo de todo o ano.
Quantos cidadãos deste país que estão presos ou a receber subsídios mínimos e sociais de integração, que são recursos humanos válidos para fazer este trabalho?
E todos nós, porque não nos unimos por esta causa e pomos as mãos no terreno, limpando as áreas que ficam perto da nossa zona de residência?
Para quando um governo com coragem suficiente para interditar empresas privadas de combate aos fogos, assumindo o Estado essa função, com aquisição de meios materiais e humanos com resposta imediata a estes flagelos que possa minimizar danos?
Por que não se fecharam estradas no Sábado, onde tanta gente morreu dentro de carros?
Esta, não é a tragédia de Pedrógão Grande, é a tragédia dum país inteiro, que durante 8 meses assobia para o lado e nos outros 4 se transforma num inferno, sem que sejam apuradas responsabilidades.
Não tenho palavras para dirigir a quem perdeu família, amigos, uma vida de trabalho. Só posso dizer que essa dor também é minha.
Os Bombeiros Voluntários têm em curso a campanha Garrafa solidária. Adiram com a entrega nos quartéis de garrafas de água de 25 e 33cl.
É o mínimo que podemos fazer.
(Não basta a tragédia em si, o choque, a revolta, a impotência, ainda temos que ser confrontados com a imbecilidade das reportagens de televisão junto de corpos das vítimas.)
* Título deste post pertence ao poema Complicação de Mário Dionísio