Dos últimos filmes que vi, com uma actriz que aprecio bastante, Juliette Binoche, "Mil vezes boa noite" baseia-se nas próprias experiências do realizador norueguês Erik Poppe, como repórter fotográfico em zonas de guerra.
O filme começa com o ritual a que são submetidos os bombistas-suicidas no Afeganistão - no caso, uma mulher - antes de sacrificarem a própria vida e tantas outras em ataques terroristas. Rebecca, a personagem de Binoche, uma fotógrafa mundialmente conceituada, acompanha toda a operação, captando o inimaginável através da sua câmara fotográfica, acabando por ficar gravemente ferida. Quando regressa a casa depara-se com o ultimato feito pelo marido, que a obriga a escolher entre a sua profissão e a família que não aguenta mais o medo de que ela um dia não regresse.
Tentei colar-me aquela mulher e ao seu dilema, por um lado a família, o seu (nosso) porto seguro, por outro a sua obsessão pela profissão que adora e a convicção de que através das suas fotos pode fazer a diferença, despertar consciências, alertar para a barbárie que se passa ao nosso lado.
No meio de tantas dúvidas, sentimentos e conflitos - pessoais e profissionais - Rebecca acaba por tomar uma decisão. Não a consigo julgar, porque me falta a coragem, a motivação e a firmeza de Rebecca e, porque é tão fácil estar numa sala confortavelmente sentada a assistir num écran aos dramas alheios, porque sei que no final do filme vou lamentar aquelas vidas, mas que a minha vai continuar da mesma maneira segura e egoísta.
