Tenho saudades dos meus avós
maternos.
Os meus pais trabalhavam, sou
filha única, a minha casa durante o dia era a casa dos meus avós, onde
almoçava, onde estava até à chegada dos meus pais.
Brincava-se na rua até tarde,
com os amigos de sempre e com aqueles que conhecíamos no Verão, os “banhistas”,
que vinham dos arredores com as famílias para apanhar banhos de sol e de mar.
Quando íamos para a escola os pais não nos acompanhavam, entrávamos e saíamos
em grupo.
Tenho muitas lembranças dos
meus avós, lembro-me de ouvir fado e música popular com o meu avô (aprendi a gostar de Tristão da Silva, Tony de Matos, Francisco José), num grande
gira discos que ele tinha, lembro-me de ir passear com a minha avó em “excursões”,
lembro-me de estar com ela grandes temporadas em casa do meu tio em Lisboa, em
Entrecampos, e de brincar com a filha da porteira do prédio, menina da minha
idade.
Lembro-me de escrever cartas
ditadas pela minha avó (que era analfabeta) para os irmãos e sobrinha,
emigrantes em França.
Lembro-me da comida em casa
dos meus avós; do bacalhau guisado, de comer gaivota, de comer toninho
(golfinho pequeno) que dava à costa – chamem-me selvagem – ainda hoje lhes sinto
o sabor, (não esperneiem mais, que hoje não os comeria). Lembro-me da minha avó me dar dinheiro para comprar bombocas.
Lembro-me do grande brinco-de-princesa vermelho que pendia pela parede, na entrada de casa deles, lembro-me do poço no pátio, das escadas para o terraço.
Lembro-me da companhia que eles
me faziam e que eu lhes fazia, principalmente a minha avó, pequenina, mas uma
mulher rija, lembro-me das tardes de Verão passadas com ela em casa da Sra. Aurora, a ver passar os turistas.
Lembro-me do meu avô nos
últimos anos de vida, beber vinho quente às refeições.
Lembro-me da minha avó quando
se chateava com ele, chamar-lhe “velho da cadela”.
Apenas o meu avô já não
conheceu a minha filha mais nova.
Gostava (gosto) muito deles,
foram uma parte muito importante da minha vida, foram uns avós presentes e
amigos, sonho muitas vezes com eles e é um sonho bom.
Devia ser proibido os avós
morrerem aos netos, sem estes ficarem com uma recordação, uma memória deles, com
os seus rostos gravados nos seus corações.
Sorte a minha que os tive até
muito tarde.
Tenho saudades dos meus avós,
mas é uma saudade que não dói, é uma lembrança bonita e feliz.
A minha avó faria hoje 105
anos. Parabéns vó!